quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Degustar às cegas! Um exercício de humildade.


Nota: Esse artigo foi escrito por mim em um site de crítica de vinhos na qual era um dos proprietários. O ano foi 2009. O artigo ainda muito atual.


Há duas semanas, em um dos grupos que participo, o tema foi: “Vinhos com análise descritiva, publicada por críticos.”, ou seja, tínhamos que ler o que havia sido encontrado no vinho em questão, com o objetivo primeiro de descobrir o vinho e após debater o assunto e a crítica.
Tudo certo, até que o “dono” da noite resolveu atender ao pedido da semana anterior feito por um confrade: colocar um vinho “pirata”, que seria um Lovara 1999. Ao iniciarmos a degustação, iniciou a leitura das características de seus vinhos, sempre omitindo os nomes. Fiquei tranqüilo, pois o nível estava em 90 pontos para cima. Dentre os vinhos um 96 pontos RP. Pensei comigo: “vou achar o Lovara fácil!”. Dito e feito, na cor e no nariz, grande parte do grupo já gritou: “É o vinho 3!”. Já que ao gosto de todos era o pior vinho, com uma cor mais acabada e um nariz de “pipa velha.” Os outros vinhos maravilhosos, tirando outro vinho que estava com um aroma de couro e coentro quase que insuportável, mas era sabido que ali estava um exemplar chileno característico e não um vinho gaúcho.
As notas estavam sendo computadas para definir a média, não vou me apegar a isso, mas as médias ficaram entre 85 e 90 pontos. Mais uma vez preciso salientar que para 5 dos seis participantes daquele dia o vinho 3 era o vinho gaúcho e o chileno era o Don Melchor 2003, pois nesse momento já havíamos chegado ao nome do vinho, pois o anfitrião pode ir fazendo perguntas durante a degustação que vão nos levando, devido a experiência aos vinhos.
Ao revelarmos os vinhos... Preciso dizer antes que acabei a noite sem conseguir comer a sobremesa de chocolate ao porto que estava acompanhada com de um Oremus Dry Tokaji, pois fiquei mal, ao ponto de ter que tomar um chá de boldo e losna in natura!
A ordem do último para o primeiro:
Quinto lugar: Chateau Pesquié – 2004
Quarto lugar: Pisano Arretxea – 2004
Terceiro lugar: Don Melchor – 2003
Segundo lugar: Tikal – 2006
Primeiro lugar: Lovara 1999 – Cabernet Sauvignon.

Fiquei com essa degustação martelando na minha cabeça.
Na semana seguinte o tema foi "países". Cada confrade saiu do encontro anterior com um país, eu era livre. Levei um Tormentas Premium. 
Antes das revelações, o anfitrião faz perguntas para facilitar a descobertas. O primeira detalhe é que ninguém chutou Brasil para nenhum do vinhos. 
As médias, com base na ficha da SBAV, ficaram todas dentro de 80-89 que significa MUITO BOM.

A ordem ficou o seguinte: 
Primeiro lugar - Vinho 3 - Média 89,66 
Segundo lugar - Vinho 5 - Média 87,60 
Terceiro lugar - Vinho 1 - Média 86,33 
Quarto lugar - Vinho 4 - Média 82,33 
Quinto lugar - Vinho 2 - Média 81,16

Quando revelei que o meu vinho era o Tormentas, alguns não conheciam e todos ficaram impressionados com a qualidade do vinho, ou melhor, a qualidade que chegou um vinho nacional.
Os vinhos: 
Vinho 1 - Alto Las Hormigas - RESERVA - 2006 (Argentina) 
Vinho 2 - Tormentas - Premium - 2007/2008 (Brasil) 
Vinho 3 - The Don - 1999 - Cabernet Sauvignon (Chile) 
Vinho 4 - Marques de Arienzo - reserva Especial - 2001 (Espanha) 
Vinho 5 - Quinta do Crasto - Touriga Nacional - 2006 (Portugal).

Ontem, dia 02 de Setembro, eu já havia definido que faria um “Boeuf Bourguignon” e a casta correta seria, a melhor de todas: Pinot Noir. Sem definir região, deixei livre, desde que a varietal estivesse de acordo com a determinação. Tudo sempre as cegas, os confrades foram chegando e “vestindo”seus vinhos com as capas escuras. Todos os vinhos com excelente qualidade, mas estava obvio, aos nossos narizes que haviam dois exemplares do “velho mundo” e três exemplares do “novo mundo”. Como anfitrião da noite, iniciei a fazer perguntas ao grupo. Fiquei tranqüilo, já que ao menos acertei os vinhos de cada “mundo”. Eis que surge uma voz: “Eu trouxe um vinho brasileiro!”. Não preciso dizer que a sala parou em um silêncio perturbador. Naquela bateria, não tinha nada com característica nacional. Parei de perguntar e pedi para abrir os vinhos, pois nada mais que eu perguntasse teria faria diferença, mediante a tal revelação.
A primeira coisa que me veio em mente foi um único nome. Antes explico: No Segundo Encontro dos Amigos do Notas de Degustação, aqui em Porto Alegre, um dos nossos leitores e assíduo participante do Fórum do site, me ligou e disse que iria levar na degustação de Borgonhas, um vinho pirata, que iria gerar um polêmica muito grande. Acho que ele até levou o vinho, mas não foi aberto por esquecimento. Hoje eu falo em alto e bom tom: QUE PENA! Pois tenho quase certeza que esse vinho estaria no meio dos grande vinhos que bebemos naquela noite. Estou falando do Salton Volpi – Pinot Noir – 2006. Sim esse vinho foi o impecável é implacável com seus concorrentes. As médias ficaram entre 84 pontos e 89 pontos e os vinhos foram:
Quinto lugar: J. Cacheux – Les Champs D’Agent – Bourgogne – 2003 - França
Quarto lugar: Francis Coppola – Diamont Collection – 2006 – Estados Unidos
Terceiro lugar: Enrique-Mendoza – Alicante - 2003 - Espanha
Segundo lugar: Bodegas NQN – Malma – Reserva - Patagônia – 2007 - Argentina
Primeiro lugar: Salton – Volpi – 2006 – Brasil

Confesso que relutei muito, antes de publicar esse texto, mas não tenho o direito de omitir informação aos nossos leitores, que podem conferir e retribuir com suas impressões sobre o texto e sobre o vinho, nos escrevendo ou debatendo com todos nós no Fórum privado do site.
Saio dessas três degustações cada vez mais convicto que degustar às cegas é um exercício de humildade.

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