quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Marco Danielle: Atormentando muitos com o melhor vinho nacional.

Para quem não conhece, Marco Danielle é um artista. Ele faz vinho, só que ao contrario da maioria dos brasileiros que fazem o mesmo, ele faz muito bem. Steven Spurrier, do “O Julgamento de Paris” escreveu sobre o seu vinho, o seguinte: “Tormentas Premium 2006: Cor de negro rubi-aveludado; visual rico e luxuriante, com densas pernas  nas paredes da taça. No nariz, finas frutas de bosque maduras e concentradas, dominando cerejas negras combinadas com certa terrosidade natural. No palato, há uma excelente concentração de uvas muito maduras e um soberbo equilíbrio com a acidez natural. Grande densidade geral e pureza de fruta dominada por cerejas negras. Um vinho vivaz, com potência e elegância. Um vinho refinado, feito com evidente paixão e insistência na qualidade.”


Ontem, nas Redes Socias, após comentar algo em um post de Danielle, ele me emocionou escrevendo isso:


“Rodrigo, o importante é que você sobreviveu. No tempo da Inquisição, seria queimado vivo.
Explico:
Para quem não sabe, apresento Rodrigo e Augusto, críticos/fundadores do site "Notas de Degustação", que fez grande sucesso por não depender de anunciantes, podendo, portanto, dizer a verdade sobre o mundo do vinho. O site conquistou um público imenso de enófilos fartos da manipulação comercial da maioria das revistas. Infelizmente o "Notas" acabou, mas deixou seu legado e abriu caminho para muitos blogs independentes que hoje oferecem uma referência mais credível sobre vinhos.
Ao contrário de muitos repórteres badalados comprados por anunciantes, capazes de dizer qualquer coisa depois de um porre de luxo, a dupla do Notas tratou de colocar o vinho em seu devido lugar: no escuro, onde todos são iguais perante Deus. Essa foi a regra. Como resultado, avaliaram às cegas grandes vinhos franceses e italianos, de marcas consagradas, lado a lado com vinhos marginais de pequenos produtores obscuros - entre eles os meus. Como resultado dessas comparações imparciais, concluíram que vinhos de qualquer parte, se feitos com esmero, terão traços em comum com os grandes vinhos do mundo. Obviamente, os ataques não tardaram. 
A dupla do Notas garimpou e trouxe à luz o trabalho de pequenos produtores artesanais da Serra Gaúcha, cujos vinhos estavam em nível bem acima da oferta comercial do mercado, mas que jamais seriam divulgados por não corresponderem aos interesses da imprensa especializada.
Frente ao desgaste dos ataques, o Notas acabou. Boa parte dos produtores artesanais também desistiu, face ao desdém dos formadores de opinião e a falta de incentivo do governo - incapaz de ver no vinho de terroir a expressão cultural de um povo.
Apesar de tudo, decidi continuar. Persisti. Desde o começo sabia que um grande vinho é um quilo e meio de uvas cultivadas com zelo e vinificadas com paixão, não importa onde no mundo. Hoje, para cada crítico brasileiro que ataca os preços dos meus vinhos, dois críticos estrangeiros elogiam sua qualidade. Isso me encoraja a seguir em frente.
Voltando ao tema da Inquisição, houve uma era que os sábios eram queimados vivos por dizer a verdade, já que a verdade contrariava os dogmas da Santa Igreja Católica. A Idade Média mergulhou a medicina nas trevas proibindo a dissecação de cadáveres, em nome da ética religiosa. Gênios assassinados e milhões de vidas perdidas, em séculos de atraso. Foi necessário esperar o Renascimento para que a ciência e a verdade pudessem voltar a iluminar o mundo, retomando o ideal das grandes civilizações clássicas.
500 anos após Copérnico e Giordano Bruno a verdade segue perseguida, sempre que representa uma ameaça aos interesses do establishment - seja a Igreja medieval; seja o poder econômico atual. 
Vocês, do Notas, abordaram o vinho de forma diferente, um pouco como Galileu abordou o céu, ou Copérnico provou que não somos o centro do Universo: através da observação imparcial. Numa degustação às cegas, os dogmas dos inquisidores do vinho caem por terra mais rápido que o geocentrismo da Igreja caiu sob o telescópio de Galileu.
Portanto, caro Rodrigo, sinta-se na vanguarda da História por ter defendido que no Brasil podemos fazer grandes vinhos. E se os inquisidores te levarem à fogueira, antes de te cortarem a língua para silenciar as heresias (a exemplo do que fizeram com Giordano Bruno), reaja como ele e profira tua última frase:
"Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam" 
("Talvez sintam maior temor ao pronunciar sua sentença do que eu ao ouvi-la").”




Para quem quiser saber mais sobre esse artista, acesse o site e tome seu vinho: http://www.tormentas.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário