sábado, 27 de agosto de 2011

O dia que chorei


De fato acredito radicalmente que temos que esquecer de vez as grandes vinícolas nacionais, pois elas estão preocupadas apenas em sustentar suas máquinas administrativas e bancar cada vez mais a publicidade que as mantém, isso pode parecer um discurso inflamado de alguém de uma esquerda socialista, mas acreditem, sou um grande admirador do capitalismo e suas coisas, mas não posso deixar escapar quando o vinho está de lado e resta apenas o merchandising.
  Neste final de semana incrível que Augusto e eu passamos com enófilos amigos de várias partes do país, junto com três enólogos, Luciano Neto, Diego Dequigiovani e Maria Amélia, me deparei com uma verdade que com certeza não vai agradar a maioria, mas são verdades e devem ser ditas: a salvação da vitivinicultura nacional está na produção baixíssima de vinhedos e vinhos e como conseqüência preços maiores. Fazendo uma comparação, guardando as proporções lógicas, digo que a Borgonha não se enquadraria no regime econômico e administrativo dos negociantes de Bordeaux.
  Assim acredito que a tendência das grandes e conhecidas vinícolas nacionais é de produzir vinhos cada vez mais medíocres com preços até acessíveis aos bolsos de uma população que se deixa enganar em relação ao sucesso do vinho nacional, mas esse sucesso está de fato escondido e nas mãos de pessoas como Vilmar Bettú e Marco Danielle, além de outros tantos que devem estar anônimos nas curvas de terra da serra gaúcha.
  Na chegada na casa de Vilmar Bettú, logo ele falou sem meias palavras, a essência de tudo que já escrevi acima, estava insatisfeito com o número de pessoas que chegava a 13 na mesa de degustação, pois ele está preparado para receber apenas 12 pessoas e estava preocupado que o trabalho dele poderia ser comprometido com essa pessoa a mais. Isso é conceito de trabalho, de um produtor preocupado com a qualidade e não daqueles que fazem vinho e na realidade deveria estar produzindo o melhor suco de uva do mundo.
  Vou direto ao ponto final. Após degustar vinhos com um padrão de qualidade na média superior aos 88 pontos, inclusive forçando a degustação de um Nebbiolo ao qual ele não queria servir, Vilmar, sem misericórdia traz uma empoeirada garrafa de um Riesling produzido em 1992, um Late Harvest. Ao colocar na taça o ouro líquido logo gritou com sua cor poética. Ao colocar no nariz a sala ficou em silêncio, ao começar escrever a nota de degustação algumas lágrimas correram dos meus olhos, ainda de cabeça baixa e com vergonha continuei descrevendo o que sentia e pensando que Vilmar ainda possui um mesmo vinho de safra 1972. Quando um dos amigos se parou em pé e levantou um brinde a Vilmar Bettú, foi inevitável, mais lágrimas vieram aos olhos de mais outros tantos homens que ali testemunhavam tal momento. Obrigado Vilmar.

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