segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Existem mais dúvidas nos Ministérios do Brasil


Por uma questão profissional, não posso deixar nunca de observar as movimentações que a Cultura Nacional faz com o dinheiro público. Sempre disse que existe uma grande falta de coerência nos incentivos fiscais em prol da “cultura”. As Leis de Incentivo tornaram-se verbas fiscais dentro de muitas empresas, acabando com as verbas de marketing, além disso, muitas empresas privadas de produção cultural utilizam esses benefícios para ampliar suas receitas e não para facilitar os projetos. Ampliar? Sim, ampliar, pois além do incentivo legal manipulam orçamentos para ter as receitas de venda de ingresso dentro de seus cofres. Enfim, estou falando isso há horas, alguns deputados tanto federais quanto estaduais estão sabendo disso. Sempre dou um jeito das manifestações chegarem até eles.
De fato alguma coisa está mudando, mesmo que muito devagar, as denúncias vem  fazendo com que as garras ferozes de alguns produtores sejam aparadas, porém está surgindo na mesma forma e por outra via, alguns projetos estranhos. Antes dos projetos estranhos, existem alguns produtores que vem fazendo um belo trabalho independente e as claras, fazendo um excelente intercâmbio musical entre os estados e até entre os países da América do Sul, levando a música independente que muitas vezes está ainda muito longe de tocar nas grandes redes de rádio, à um público carente de coisas novas. Posso dar nomes a esses sérios produtores: Senhor F, com o “El Mapa de Todos”e suas “noites” em Porto Alegre e o Rei Magro com suas “maluquices” nas segundas. No mais, fica um tanto difícil achar outros. Em compensação está cada vez mais crescente produtoras privadas que estão sendo bancadas com o dinheiro público. Como? Não sabemos, elas surgem já surgem grandes e com sede em várias capitais do país. Como assim? E aquelas produtoras que estão ao longo do tempo batalhando um lugar no mercado? Passaram desapercebidas? Não acredito! Eu acredito sim é na maracutaia que como em tudo nesse país se faz presente, quando as verbas são públicas, por que não na cultura, já que é um assunto tão distante dos grandes interesses sociais? Fica mais fácil roubar, pois o destaque da grande imprensa, normalmente é na agricultura, na fazenda, nos transportes... Atenção senhores, muita atenção. Tem mais ladrão espalhados por outros Ministérios do Brasil.

Abaixo um excelente texto do Fernando Rosa:

Não centralizar a descentralização!

* Fernando Rosa

A crítica do China ao “Fora do Eixo” traz à tona um tema que fervilha nas rodas independentes nacionais. A bem da verdade, não se trata de um assunto tão atual assim, inclusive já objeto de textos anteriores e acalorados debates. O centro da questão é sempre, sintetizando, o “cachê” que não é, ou não seria pago, pelos produtores independentes, ou, no caso, os ligados ao FdE.

Isso é apenas a superfície do problema, que é muito mais amplo e profundo do que aparenta nesses debates travados via “posts” e comentários. Sou produtor, tenho selo, edito um portal, faço curadoria e não me acho capaz de ter uma “opinião formada sobre tudo”. Por isso, é difícil sentir-se à vontade de entrar no debate quando o tom é a crítica frontal, do “errado” e do “certo”, num tom reducionista.

Em primeiro lugar, é preciso entender que vivemos uma época contraditória, com mudanças de paradigmas de produção, distribuição e consumo de música. Isso provoca profundas mudanças estruturais no “sistema/mercado” e, em decorrência, a disputa de avaliação sobre a realidade, causas e conseqüências. Os defensores das estruturas em superação se apegam ao passado, os que advogam o novo saudavelmente chutam o balde.

O que acredito seja principal nesse momento é ter maturidade para enfrentar uma discussão aberta, franca, honesta sobre todas as questões. Sejam os produtores ligados ao FdE, a Abrafin, ou independentes de qualquer estrutura, todos foram responsáveis por impedir que a falência de um sistema sufocasse a produção musical nacional. É importante também destacar o papel do Estado que, nesse período recente, aliou-se aos “mais fracos” para fortalecer a construção de um novo cenário, e também de diversas casas de shows que abriram suas portas para as novas produções.

Abrir um debate desqualificado neste momento é desprezar o profundo acúmulo histórico que artistas, produtores e gestores públicos conquistaram nos últimos anos no país. Na esteira de festivais históricos como o Abril Pro Rock, Porão do Rock e Goiânia Noise, e facilitados pelas novas redes sociais, centenas de outros festivais e iniciativas culturais surgiram em todo o Brasil. Como somos um país gigantesco, as formas de organização, as diferenças regionais, os tipos de festival, as condições de produção, não podem seguir um padrão.

Nós realizamos um festival “exemplar”, como definiram a última edição, o El Mapa de Todos, com pagamento de cachês, passagens aéreas, hotel e alimentação, mas nem por isso acho que isso deva ser regra geral. Ao mesmo tempo, organizamos a Noite Senhor F, em Porto Alegre, na qual trabalhamos com participação na bilheteria, sem cachês fixos. No primeiro caso, fruto do nosso trabalho cultural e qualificação, um patrocínio sustenta a nossa ação, mas no dia-a-dia enfrentamos um cenário de “construção de público”, por diversas razões, resistente ao novo.

Não existe, portanto, nenhuma fórmula hegemônica, nenhum pensamento superior, capaz de pautar formas de organização, ou de determinar algum tipo de caminho para o movimento em curso. Ao contrário, as porteiras estão abertas para qualquer um buscar alternativas para a sua banda, seu festival, seu projeto coletivo ou particular. É preciso não centralizar a descentralização, apenas se colocar no jogo de forma honesta, sincera, sem truques mercadológicos ou disfarces ideológicos.

O “sonho pop americano” acabou, a internet promoveu uma revolução nas relações de produção em geral, inclusive da música, mas nem tudo está resolvido, ao contrário. Os artistas precisam circular, ter espaços para mostrar sua música, mas também precisamos construir formas de remuneração concreta para viabilizar as carreiras. Isso não se limita a cobrar “cachês” de quem quer seja, mas exige postura auto-gestionária dos artistas, democratização dos meios de comunicação e maior incentivo público à cultura, especialmente na formação de público.

A meu ver, para encerrar, além dos temas relacionados com a circulação e a remuneração, acredito que seria também interessante ampliar o debate para a qualidade da produção musical nacional. Muitos são os críticos ou defensores das “estruturas”, mas poucos questionam a qualidade estética e cultural do que se produz atualmente. O Brasil tem espaço para todos que buscam construir novas pontes ‘rumo ao futuro’, sem ranços ideológicos, discursos hegemonistas ou acomodação “artística”.

Um comentário:

  1. Sensacional!
    Temos que denunciar mesmo!
    Eu já fui convidado pra tocar em festa de Reveillon no Gasômetro, com cachê de 20 mil, sendo 10 pra banda e 10 de "doação" pra secretaria de cultura (mas iríamos assinar um recibo de 20 mil!). Que tal???
    Isso fazem alguns anos.
    Como eles viram que não iríamos aceitar, acabaram não concretizando o convite.

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