domingo, 8 de janeiro de 2012

Lobão e o Ministro da Eucaristia


O fato de não me agradar o comportamento e posicionamentos de algum grupo cultural, não necessariamente faz com que eu nunca preste atenção em sua obra. Isso seria preconceito gratuito. Mas algumas pessoas, colocam tudo dentro de um mesmo saco e nunca olham com outros olhos as manifestações de determinado grupo, apenas por não concordar com a postura dos mesmos. Essa teoria toda é para contar uma história que agora que estou acabando de ler a biografia do Lobão me ocorreu.
A década de 80 foi para Lobão um período de muita contravenção e posicionamentos nem tão corretos assim, ao ponto de vista de pessoas normais, quiçá de um senhor, educador, intelectual e ministro da eucaristia. Para quem não sabe, ministro da eucaristia é aquela pessoa, homem ou mulher, que ajuda o padre a dar a comunhão durante a missa. Existe toda uma preparação ritualistica para fazer aquilo e dizer: “O corpo de Cristo”, mas isso é outro papo.
Dentro desse período agitado, Lobão escreveu, o que é pra mim, uma das letras mais profundas e marcantes da música brasileira: Me Chama. Profunda e impregnada de pedidos de socorro e manifestações de saudades. Sim, aquele, ser subversivo e drogado, um revolucionário e contestador da ordem e dos costumes escrevia e ainda escreve muito bem. 
O ministro da eucaristia em questão era meu tio-avô, irmão da minha avó, filho de Coronel da Brigada Militar e com uma criação que não precisamos detalhar. Anos antes de sua morte, ele confessou para uma tia minha que uma das músicas que ele mais gostava era “Me chama”. A letra o fazia lembrar de coisas do passado e acendia algo no seu interior. Escrevo sobre isso, porque achei muito interessante, pois tenho certeza que se ele tivesse lido a biografia do Lobão, nunca, jamais e em momento algum ele iria se permitir escutar tal música, ou mesmo após de já ter gostado, iria “encontrar” algum problema mesmo que na estrutura do poema.
Não estou personificando o assunto, mas sim usando como exemplo uma pessoa próxima a mim que teria o comportamento que muitos possuem hoje. Confesso que não gosto de rap, pagode, hip-hop, sertanejo, mas isso não quer dizer que não presto atenção no que escrevem. Mas o comportamento e conteúdo estrutural desses grupos tem pouco à acrescentar para o crescimento da sociedade. Não podemos nunca generalizar, para isso, se permita escutar e analisar, antes de falar e quando se manifestar tenha conteúdo para não ser mais um preconceituoso. Não tenha “pré-conceitos” e sim conceitos.

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